Nosso Caminho de Obra para o Brasil (1939 - 1941)
"Toma minhas maos e me guia"
Registro | RG-BBG/57 |
---|---|
Categoria | Livro de Memórias |
Área | História |
Edição | 0 |
Ano de publicação | 1978 |
Cidade | São Paulo |
Estado | São Paulo |
País | Brasil |
Pages | 37 |
Idioma | Polonês |
A historia da familia polonesa Czapski, que se instalou no Brasil em 1941, fugindo da guerra na Europa, ilustra outra vertente da imigracao - a resultante de circunstancias politicas ou perseguicoes religiosas ou raciais. Foi contada no opusculo Nosso Caminho de Obra para o Brasil, escrito em 1982 por Ilza Czapska, mulher do tecnico agricola Fryderyk Czapski. "Obra" era o nome da fazenda que possuiam na Polonia. Ao termino de sua missao na colonia polonesa, Fryderyk ja se encontrava a bordo do navio em que regressaria a Europa quando a viagem foi cancelada - a Polonia fora invadida por Hitler e a guerra comecara. Do outro lado do Atlantico estava sua familia inteira, a esposa, Ilza, e os tres filhos, Juljan, de 14 anos, Genia, de 13, e o pequeno Janek, de 3. Como veraneavam em outra localidade, tiveram grandes dificuldades para voltar a fazenda de Obra, atravessando um pais que naqueles primeiros dias de setembro de 1939 ja sofria com bombardeios e violencia de toda especie. A Segunda Grande Guerra havia eclodido e as tropas alemas avancavam sobre o territorio polones. Em Obra, que ja fora ocupada pelos alemaes, souberam que Fryderyk havia sido procurado, para ser executado. Tiveram de se incorporar a grupos de refugiados que eram jogados de um ponto para outro, sem rumo, enfrentando todo tipo de perigos - em uma ocasiao, recolhidos a um campo com outras familias, escaparam da morte quando os velhos soldados alemaes que os guardavam se recusaram a obedecer a ordem de executa-los, vinda da administracao civil alema. Transferencias subitas e inexplicadas, longuissimas viagens de trem para destino ignorado, fome, frio, o confisco de todos os bens, inclusive das contas bancarias, a angustia diante da separacao forcada de Fryderyk e de outros membros da familia, a incerteza do destino final - tudo isso foi enfrentado por eles durante dois anos. Fryderyk voltara a Europa, mas, como nao podia entrar na Polonia, conseguira incorporar-se ao exercito frances, na qualidade de oficial. E tentava desesperadamente resgatar a familia, pois tinha conseguido um visto de entrada no Brasil para todos. Apos uma viagem perigosa pela Alemanha e Hungria, os Czapski puderam se reunir em Paris - por pouco tempo, ja que os alemaes estavam para invadir a cidade. Ilza e as criancas tiveram de fugir apressadamente, enquanto Fryderyk permanecia em Vichy, com a sua guarnicao. Ilza vagou durante meses na regiao fronteirica com a Espanha, tentando de inumeras maneiras obter os tres vistos necessarios para a familia - o frances, de saida, e os de transito da Espanha e de Portugal. Esperava reunir-se ao marido em Lisboa, onde todos tomariam um navio para o Rio de Janeiro (RJ). Esse projeto nunca se realizou. Colhidos nas formalidades burocraticas, na situacao politica desses paises, somente em janeiro de 1941 Ilza e os filhos conseguiriam embarcar no navio Alsina, nao em Portugal como pretendiam, mas no porto de Marselha. Em tres semanas, pensavam, estariam no Brasil. Outro engano. Na verdade, devido a falta absoluta de seguranca para a travessia do Atlantico, o Alsina, lotado com milhares de refugiados foi obrigado a se transformar durante os seis meses seguintes em um verdadeiro navio fantasma que vagava pelas costas africanas aportando de vez em quando somente para abastecimento. O desespero tomava conta dos passageiros que nao sabiam ao certo o destino final do Alsina. Depois de se depararem com varios obstaculos conseguiram chegarem a Espanha e finalmente embarcaram em Cadiz, mesmo com seu visto para o Brasil expirado, com destino ao Rio de Janeiro (RJ) - onde desembarcaram em 10 de julho de 1941. Um mes depois Fryderyk tambem se reunia a eles - iniciavam assim uma nova vida.